Leia a parte 1 deste capítulo AQUI.

CAPÍTULO I

Parte 2

Continuando, um dos dois pilares da linguagem cinematográfica:

Sergei Eisenstein

Cineasta russo, fez seu cinema no período pós Revolução Russa. Era (pelo menos no início) entusiasta do socialismo e seus filmes eram de propaganda do regime soviético - claro, ou não poderia sequer filmar.

Todavia, diferente de outros cineastas soviéticos, superou a mera propaganda e, em poucos filmes e pouco tempo, acelerou profundamente o motor da progressão da linguagem cinematográfica. Seus filmes eram tão sofisticados que os chefões soviéticos começaram a não entendê-los e a repudiá-los.

Aos poucos ele foi perdendo o entusiasmo que os outros tinham em seus filmes e, junto com isso, a confiança dos superiores. Temos aí uma grande ironia, pois seus filmes eram, formalmente, muito mais marxistas do que o próprio regime no qual se inseriam, pois sempre enfatizavam a contradição, a dialética. Ver, preferencialmente, O Encouraçado Potenkim (Bronenosets Potyomkin, 1925).

Nesse filme mesmo, vemos essa contradição na famosa cena das "escadarias de Odessa" entre os soldados czaristas, uniformes, organizados e lineares, investindo contra o povo comum, fugindo desorganizadamente. A ironia torna-se ainda maior quando nos damos conta de que o socialismo real foi um dos regismes mais racionalistas, cartesianos e materialistas que existiram, a tolher toda subjetividade, sinceridade, criatividade e espontaneidade humana.

O que Eisenstein queria mostrar, enquanto partidário do regime soviético era que o czarismo (regime derrubado pelos bolcheviques) era um regime cruel, imposto de cima para baixo, que não correspondia à maior parcela da população, que era verdadeiramente humana. O título do filme se deve à trama principal, que diz respeito ao motim dos marujos do tal encouraçado (um tipo de navio de guerra). O mais importante em Eisenstein (que foi também um teórico, escreveu muito sobre o assunto) é mostrar que o principal elemento responsável por dar sentido a um filme é a montagem (edição), a justaposição dos planos que gera o sentido pretendido pelo realizador.

Deixa clara a validade do chamado Efeito Kuleshov, uma experiência em que o mesmo plano em close de um homem é alternado ora com um elemento, ora com outro, gerando sentidos completamente diferentes, a despeito de o personagem não mudar de expressão facial; por exemplo, um rosto alternado com um prato vazio de comida = fome; o mesmo rosto alternado a um cachorro abandonado = benevolência, simpatia pelos animais; e por aí vai.

A partir daí, Eisenstein vai muito além, construindo diversas simbologias em cima do tema das lutas de bolcheviques contra mencheviques (outro filme importante, só que ainda mais complexo, é Outubro (Oktyabr, 1928), que trata justamente do dia do estopim da Revolução Russa, ocorrida no mês de outubro). E o faz com maestria; tanto tenta dar a a duração (ritmo) e a combinação perfeita entre os planos (montagem externa) para criar o sentido pretendido, como também capricha na montagem interna, compondo os planos do filme com preocupação geométrica. Com a falta de aceitação de seus filmes, acabou se exilando no México, onde continuou trabalhando até morrer.

A influência de seu cinema pode ser percebida em diversos filmes, bem variados, desde um épico com cenas arquitetonicamente monumentais até filmes com montagem sofisticada, como os de Alfred Hithcock ou Orson Welles. Contudo, um a cena exemplar é a da correria das crianças fugindo da escola em função de um dos ataques das aves assassinas em Os Pássaros (The Birds, 1963), que é montada no mesmo estilo da cena da escadaria, de Potenkim. É importante ter em mente que não se trata de uma citação, uma homenagem, como em Os Intocáveis (The Untouchables, 1987), de Brian De Palma, mas sim uma cena própria do filme, de Hitchcock, com influência clara de Eisenstein.

A influência de Eisenstein é indelével e necessária, mas isso vai-se percebendo com o tempo, após conhecer o russo e mais e mais filmes posteriores.

A seguir, o cinema clássico e intimista americano. Como interlúdio, uma observação sobre um pioneiro menos valorizado, mas que também teve sua importância (ainda que menor), George Méliès.

Abraços

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