Leia a parte 1 do capítulo I AQUI e a parte 2 do capítulo I, AQUI. O post anterior, Interlúdio você rever clicando AQUI. O capitulo II é só clicar AQUI. O capitulo 3 é AQUI.

CAPÍTULO IV

Instabilidade e Renovação

Difícil afirmar com segurança se François Truffaut, em meados dos anos 1950, ao pregar a primazia do diretor sobre os demais profissionais atuantes na construção de um filme, estava consciente da revolução que tal idéia provocaria na atividade cinematográfica, na crítica, assim como na apreciação dos filmes pelo público - principalmente os ditos cinéfilos.

A chamada "política do autor" buscava incluir o cinema no rol das formas de expressão que possuem uma autoria clara, como a literatura, as artes plásticas ou a música. A idéia que hoje soa óbvia - se não para o público médio - para os cinéfilos, de que o realizador, o diretor, é o verdadeiro responsável pelo estilo, pelo tom da narrativa fílmica, só se consolidou após o ativismo dos membros da chamada Nouvelle Vague ("nova onda") francesa, notadamente pelo crítico e cineasta François Truffaut. A propósito do rico pensamento e da vigorosa crítica de Truffaut, recomendo a excelente coletânea de escritos O Prazer dos Olhos.

Sem dúvida, o fim da Segunda Guerra Mundial marcou o início de um novo tempo para a atividade cinematográfica. As formas narrativas, já muito avançadas naquele ponto da história, tiveram seu leque aumentado ainda mais. É notório que um período de crise intensa, como o é uma guerra mundial, estimula novas abordagens artísticas, como foi o surgimento do expressionismo alemão após a Primeira Guerra Mundial (ver capítulo III). Assim também podemos observar que novas formas de se ver a realidade surgiram também após a Segunda Grande Guerra.

Desde o início da perseguição nazista a judeus, artistas e intelectuais, já nos anos 1930, diversos profissionais da sétima arte (notadamente, diretores e roteiristas) migraram para os EUA. O resultado disso foi o incremento, o enriquecimento da estética dos filmes norte-americanos. Havia, como exposto no capítulo II, um certo padrão (ainda que a cinematografia hollywoodiana estivesse longe de ser homongênea) na visão de mundo e na forma narrativa dos filmes feitos nos EUA. Cineastas como os austríacos Otto Preminger e Billy Wilder (este que começou como roteirista) ou o inglês Alfred Hitchcock (que migrou por razões alheias à perseguição nazista) são exemplos de europeus que marcaram inegável e indelevelmente o cinema norte-americano, com suas visões próprias de cinema e sua criatividade - principalmente no caso de Hitchcock - incessante. Outros imigrantes. É verdade que outros nomes, como o húngaro Michael Curtiz, se encaixaram bem no estilo vigente do melodrama norte-americano; não à toa este é o diretor de um do maiores clássicos deste estilo de cinema, Casablanca (1943) . O fato é que Hollywood ganhou novos ares, novas cabeças pensantes e atuantes, em parte graças à guerra, em parte graças à tradição norte-americana de atrair intelectuais e artistas de destaque.

Alfred Hitchock, como já dito, levou à sua máxima expressão o melodrama e construiu bases sólidas para o suspense - além de misturar gêneros em muitos de seus filmes, como Intriga Internacional (North by Northwest, 1959), no qual podem ser encontrados aventura, ação, suspense, comédia e romance. Billy Wilder, herdeiro estilístico do alemão Ernst Lubitch, inovou na comédia (sempre ácidas e hilárias) e no filme noir. Entre as comédias, temos os clássicos Quanto mais Quente Melhor (Some Like It Hot, 1959) e Se Meu Apartamento Falasse (The Apartment, 1960); entre os noir, temos o metalingüístico e crítico Crespúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1951) e o clássico entre os filmes desse estilo Pacto de Sangue (Double Indemnity, 1944).

Quanto a Crespúsculo dos Deuses, este, pode-se dier, é o filme testamento, o filme que sintetiza o que foi o cinema hollywwodiano até aquele período (fim dos anos 1940 para o início dos anos 1950). Expõe-nos sem pudor, de forma ácida e cômica, a decadência do star-system e do império dos grandes estúdios - mudança que, com o tempo, gerou mais liberdade para os atores e abriu as portas para as produções independentes.

Muitos dos diretores desse período em diante, além de outros já mais antigos (como Charles Chaplin ou John Ford), mais tarde, com a consolidação (a partir da Nouvelle Vague, basicamente) dessa nova forma de ver a sétima arte, passaram a ser vistos como queria Truffaut, como autores, portadores de um estilo próprio que imprimiam aos seus filmes, a despeito dos outros participantes da realização, e em muitos casos portadores de um universo temático e ficcional próprio.

Destaco, por fim, que este foi um capítulo mais de contextualização, não dizendo respeito a nenhuma escola mais específica.

A seguir, o Neo-realismo Italiano, talvez o efeito mais intenso e direto da crise mundial gerada pela Segunda Grande Guerra.

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