Leia a parte 1 do capítulo I AQUI e a parte 2 do capítulo I, AQUI. O post anterior, Interlúdio você rever clicando AQUI. O capitulo II é só clicar AQUI. O capitulo 3 é AQUI. E o 4º AQUI.
Antes de partir para o Neo-realismo italiano, julguei importante um segundo adendo, exclusivamente sobre um filme que mudou tudo.
INTERLÚDIO II
Não poderíamos continuar viajando pela história da sétima sem nos determos um pouco
Orson Welles surgiu como um meteoro transformador justamente naquele momento sobre o qual o Capítulo IV fala. Embora não-europeu, teve papel parecido com o de outros cineastas recém-chegados em hollywood, principalmente por ter realizado uma espécie de "filme-resumo", que recapitulou muitas das principais conquistas estéticas feitas até então, lançando mão de tudo de forma inegavalmente criativa e pessoal; lembra muita coisa anterior, mas é diferente de tudo já feito. Que fique claro, não é um filme importante por ser apenas um "catálogo", não se trata de um uso indiscriminado para exibicionismo pernóstico de um jovem promissor. Temos, sim, um jovem promissor com clara consicência artística e cinematográfica, que praticamente atingiu seu auge em sua primeira obra.
Um dos recursos técnico-estéticos mais marcantes e mais citados de Kane é a chamada profundidade de campo, que toma forma quando se capta mais de um plano no mesmo enquadramento. Esta forma de planificar não foi inventada por Welles; embora não fosse comum, já havia sido utilizada, por exemplo, por Jean Renoir em um de seus melhores filmes, A Regra do Jogo (
O filme tem diversas outros artifícios e pode sua construção ser observada em várias dimensões além da planificação. No som, além da trilha sonora do grande Bernard Herrmann (Piscose, Um Corpo que Cai, Intriga Internacional e outros de Hitchcock, Taxi Driver, de Scorsese, entre vários outros), temos o uso do estilo radiofônico - do qual Welles era cria - nos diálogos dos personagens. O volume e as impostações de voz em vários momentos remetem à época áurea do rádio. O uso dos cenários e da fotografia é expressionista. A fotografia tem fortes contrastes e os cenários são deformados, embora não no grau de um típico filme mudo expressionista; são desproporcionais em relação à realidade, ao tamanho dos personagens. Weles rebaixa os tetos de alguns cenários e filma em contre-plongé (de baixo para cima) parcial, mostrando personagens com a impressão de gigantismo - isso mesmo em cenas em que estes passam por crises, o que pode até ser visto como ironia da narrativa.
Quanto à trama, é estruturada como um quebra-cabeças a ser montado pelo espectador no decorrer da narrativa. Temos um filme todo
Em suma, é um filme que quebra com a tradicional linearidade hollywoodiana e que também faz um balanço das conquistas estéticas do cinema de até então, tudo com função dramática. Filme virtuoso e rico formalmente, que mostrou que o cinema praticamente não tinha limites, que podia, sim, contar bem uma história, mas indo muito além; mostrou que uma obra cinematográfica pode expressar seus sentidos de diversas formas. Pode-se dizer, é um filme cujo tema é também a própria linguagem cinematográfica.
Este foi apenas um resumo, na internet e em livros sobre cinema, pode-se encontrar muito material sobre Cidadão Kane assim como sobre Orson Welles.
Categoria(s): Cinefilia